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História da SPRMN

Introdução

Antes de iniciar estas breves notas, recordamos que pouco depois da descoberta de Roentgen, surgiram entre nós aqueles que podemos considerar os precursores da Radiologia em Portugal. Foram físicos, médicos ou estudantes de Medicina e fotógrafos. Logo em 1896 são obtidas as primeiras radiografias em Coimbra, pelo professor de Física da Universidade e médico, Henrique Teixeira Bastos; em Lisboa, por Augusto Bobone, pelo médico do Hospital Real de S. José‚ Dr. Virgílio Machado, e pelo Dr. Carlos Santos (Pai); e no Porto, por Emílio Biel e pelo Dr. Araújo e Castro.

Em 1901, foi criado no Hospital Real de S. José, em Lisboa, o primeiro "Gabinete" de Radiologia, dirigido pelo, Dr. Feyo e Castro, o qual no mesmo já trabalhava ainda estudante de Medicina. Facto semelhante aconteceu em 1902, na Universidade de Coimbra, ficando o Serviço sob a direcção do Dr. António Pádua. Finalmente, em 1908, no Porto, é inaugurado o Gabinete de Radiografia do Hospital de Santo António, entregue à chefia do Dr. António d'Andrade Júnior.

A aparelhagem era logicamente primitiva e exigia tempos de exposição muito longos. Todavia, conheciam-se já alguns dos efeitos nocivos dos raios X e a necessidade de protecção dos operadores. Mas a dedicação aos doentes, a curiosidade científica e ainda o reduzido conhecimento dos fenómenos radiobiológicos em Portugal, explicam os danos sofridos.

Inicia-se assim a época dos grandes mutilados, em resultado de radiodermites, que levavam, por transformação maligna, a amputações mais ou menos extensas. Recordamos os nomes dos Drs. Araújo e Castro, Arantes Pereira, Carteado Mena, Adolfo Pinto Leite, Sousa Feiteira, Roberto Carvalho, Feyo e Castro, Carlos Santos (Pai), Henrique Fernandes de Barros, Carlos Santos (Filho) e, mais tarde António Covas Lima. O mesmo destino tiveram alguns técnicos de Radiologia.

Carteado Mena e Carlos Santos (Pai) mereceram reconhecimento dos Governos do seu tempo que lhes atribuíram o grau de Cavaleiros da Ordem da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito. António Covas Lima, já no leito hospitalar onde morreria, recebeu o Grau de Grande Oficial da Ordem de Benemerência, que o Presidente da República lhe foi pessoalmente impor.

Com este trágico panorama, não admira que os médicos radiologistas não fossem muitos. No final dos anos vinte exerciam a especialidade, em todo o país, um pouco mais de meia centena de radiologistas. Mas entretanto, para além de Lisboa, Porto e Coimbra, a Radiologia tinha-se estendido a uma dezena de cidades do Continente, à Madeira, aos Açores e ao Ultramar.

Foi então que alguns, de boa vontade e de dedicação generosa, num pais com reduzido espírito associativo, pensaram fundar uma Sociedade Científica e Profissional, onde pudessem aprender e aperfeiçoar os seus conhecimentos, e onde, aos melhores, coubesse ensinar. Enfim, onde fosse possível contribuir para o prestigio nacional e internacional da Radiologia e unirem-se na defesa de justos interesses profissionais. Mas a época era difícil, porque se vivia sob uma Ditadura Militar e uma crise económica ainda grave.

O êxito da chamada Escola Portuguesa de Angiografia, iniciada por Egas Moniz em 1927, e continuada por Reynaldo dos Santos em 1929, na qual alguns dos nossos mais distintos radiologistas participaram, não só aumentou o prestigio e abriu novas perspectivas à Radiologia, como terá contribuído para a fundação da Sociedade Portuguesa de Radiologia Médica (SPRM). Era o ano de 1931.

A história de uma Sociedade Científica com 54 anos de existência não se reduz a um simples enunciado de actividades desenvolvidas ao longo do tempo. Ela passa por um conjunto de manifestações de dedicação e entrega pessoal, que não se limita a pessoas que ocuparam lugares nos Órgãos Sociais, mas incluiu, também, intervenções de muitos outros associados. Vários contributos externos à própria Sociedade verificaram-se igualmente. Nestes, as firmas relacionadas com a Radiologia, representaram, desde sempre, um inestimável apoio às iniciativas da Sociedade.

Quando aceitámos o convite para redigir o capítulo dedicado à história da Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear (SPRMN), destinado ao Livro Comemorativo do Centenário da Descoberta dos Raios X, tivemos a perfeita noção da responsabilidade que pendia sobre nós. Os limites de espaço impostos pela publicação eram necessariamente desproporcionados em relação à quantidade e grandeza de acontecimentos ocorridos neste mais de meio século de história. A responsabilidade acrescia pelo perigo de omissões, resultantes de lapso involuntário nosso, da sua falta de registo na documentação disponível e consultada, ou ainda, do lamentável apagamento da memória de tantos gestos pessoais, que o tempo e a vida às vezes condicionam.

Por estas omissões, parcialmente justificadas, pedimos desde já a benevolência de quem nos ler. Para as mais notórias rogamos que nos comuniquem a versão exacta.

Interessa referir a metodologia que seguimos na elaboração deste trabalho. A base documental de apoio, como não poderia deixar de ser, assentou na leitura dos livros das Actas das Assembleias Gerais, felizmente arquivados na sua totalidade na nossa Sede. Procedemos ainda à consulta dos Boletins editados ao tempo das primeiras Direcções, de documentação guardada em Arquivo, de publicações feitas durante congressos ou outras reuniões de carácter científico ou cultural promovidas pela SPRMN e ainda de outras fontes merecedoras de crédito. Parece-nos compreensível não caber no âmbito do que nos foi solicitado a transcrição de todas as acções levadas a cabo pelas sucessivas Direcções, o que, inevitavelmente, implica, com desgosto nosso, a ausência de referências personalizadas. Julgámos, todavia, dever transcrever os elencos directivos desde a fundação da SPRMN, dado o respeito que nos merecem os que integraram orgãos sociais e que de si tanto deram para que a Sociedade se afirmasse como força actuante na comunidade radiológica nacional e internacional. Pela leitura desses nomes, poder-se-á verificar, que no espirito dos fundadores e dos que se lhes seguiram, houve o cuidado de descentralizar pelo país, na medida do possível e realista, a condução das actividades associativas.

Apresentaremos este trabalho em várias partes, começando por, ao correr da pena, fazer breve historial da vida associativa desde 1931. Seguem-se os nomes dos Sócios Fundadores, dos componentes de orgãos Sociais, dos Sócios Honorários, dos Sócios doadores, dos Congressos realizados, das Publicações editadas, de Organizações internacionais nas quais a SPRMN está filiada, dos Prémios e Bolsas de Estudo instituídos, e, por fim, a lista dos actuais sócios.

Vida Associativa

A Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear foi criada em 6 de Junho de 1931, com a designação de Sociedade Portuguesa de Radiologia Médica (SPRM). Os primeiros estatutos foram legalizados em 1 de Julho do mesmo ano por alvará do então Instituto de Seguros Obrigatórios e de Previdência Geral do Ministério das Finanças. Está assinado pelo Presidente da República, António Oscar de Fragoso Carmona e pelo Ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar.
Nesses estatutos ‚ considerada a SPRM como Associação de Classe, com sede em Lisboa, prosseguindo como finalidades:

Fomentar o estudo da Radiologia (Raios X, Rádio e Radiações afins) tanto nos seus aspectos puramente científicos, como nas suas aplicações práticas à Medicina;

Promover a solução de questões que interessam à vida profissional de todos os que se dedicam à Radiologia;

Empregar todos os meios ao seu alcance para estudar e divulgar as medidas de defesa individual e colectiva, necessárias para evitar os efeitos deletérios e os riscos de acidente, que possam provir do uso dos Raios X, do rádio e das radiações afins.

No Capitulo V, art. 21, dos primeiros estatutos são considerados Sócios Fundadores "os que se inscreverem nos três primeiros meses a partir da fundação desta Sociedade."

Porém, não existe documentação segura do conjunto de pessoas que tiveram intervenção directa ou indirecta na fundação. Na acta oficial da 1ª Assembleia Geral, realizada em 14 de Novembro de 1931, durante a qual se fez a eleição da lª. Direcção, verifica-se que só estiveram presentes onze associados. Concretamente, sabe-se que à data da fundação o corpo associativo era constituído por 54 sócios e em Dezembro de 1931 por 56. Os nomes destes 56 sócios, os quais poderemos considerar os Fundadores, são referidos adiante neste texto.

As actas das primeiras Assembleias Gerais transcrevem as actividades desenvolvidas e referem-se à apresentação de casos clínicos e de inovações técnicas verificadas em equipamentos da época. Algumas das reuniões eram aproveitadas, também, para a discussão de problemas relacionados com o exercício da profissão, traduzindo o caracter misto, cientifico e profissional, que constava do objectivo social dos estatutos aprovados em 1931.

Por se pretender uma divulgação mais eficaz dos trabalhos científicos na comunidade radiológica nacional, publicado a partir de 1933 o Boletim da SPRM. No primeiro incluíam-se dois trabalhos originais portugueses: "A Associação Insulina - Raios X no tratamento dos cancros ulcerados da pele", por S. F. Gomes da Costa e F. Bénard Guedes e "Hepatoesplenografia. Técnica e interpretação", por Aleu Saldanha. O Boletim, que reproduzia ainda resumos traduzidos para português de artigos publicados em revistas estrangeiras, foi publicado até 1950.

Em 6 de Fevereiro de 1935 procede-se à primeira alteração dos Estatutos, por imposição do Decreto n.º 23.050, de 22 de Fevereiro de 1933, que retirava à SPM não só a designação de "associação de classe" como também o seu objectivo social de "promoção de solução de questões que interessam à vida profissional de todos os que se dedicam à Radiologia". Passou por isso o seu artigo primeiro a ser redigido da seguinte forma: "É fundada uma Sociedade cientifica com a designação de Sociedade Portuguesa de Radiologia Médica".

Esporadicamente, eram aproveitadas as Assembleias Gerais para apresentação de palestras por conferencistas estrangeiros convidados. O primeiro registo que encontrámos ‚ é o do famoso tisiologista espanhol Manuel Tapia, em conferências proferidas a partir de 1938. Até 1945, ano do Cinquentenário da Descoberta dos Raios X, era frequente a comunicação de trabalhos desenvolvidos pelos pioneiros do método angiográfico, destacando-se as reuniões levadas a efeito de 13 a 15 de Janeiro de 1941, com conferências dos Profs. Egas Moniz "Diagnóstico das Obstruções Carotideas", Lopo de Carvalho "Angiopneumografia", Reynaldo dos Santos "Obstruções e tromboses da aorta", Hernani Monteiro "Radiologia dos linfáticos" e João Cid dos Santos "Venografia".

Já em 1945, promove a Direcção um conjunto de manifestações científicas e culturais de grande relevo, as quais ficam registadas no número comemorativo do Cinquentenário, Vol. VII do Boletim, publicado em 1947. O título dessas conferências e seus autores são a seguir apontados pela ordem de publicação: "Os Raios X e a Ciência Moderna", Prof. Dr. Amorim Ferreira; "Perfil de Röntgen", Prof. Dr. Diogo Furtado; "Os Raios X na Imprensa Portuguesa", Dr. Ayres de Sousa; "Os Raios Röntgen na Neurologia", Prof. Dr. Egas Moniz; "A projecção da descoberta de Röntgen na Medicina Moderna", Prof. Dr. Eduardo Coelho; "A Radiologia e os progressos da Cirurgia", Prof. Dr. Reynaldo dos Santos; "Meio século de Röntgenterapia", Prof. Dr. Carlos Santos; "Os Raios Röntgen em Oncoterapia", Prof. Dr. Bénard Guedes; "0 valor da Radiologia em Urologia", Prof. Dr. Pereira Caldas; "Tuberculosos de ontem e tuberculosos de hoje", Prof. Dr. Lopo de Carvalho; "The Scientific consequences of Röntgen's discovery of X Rays", Prof. Dr. Lawrence Bragg; "A Radiologia em Anatomia", Prof. Dr. Hernâni Monteiro; "Os raios Röntgen em gastroenterologia", Dr. Albano Ramos; "A Radiologia nos progressos da investigação cientifica", Prof. Dr. Álvaro Rodrigues; "Um aspecto particular do centenário de Röntgen", Dr. M. da Silva Leal; "O conceito patogénico da radiodermite na história dos Raios X", Dr. Ayres de Sousa; "Röntgen e a Obstetrícia", Prof. Dr, Alberto Saavedra; "A descoberta de Röntgen e a Universidade de Coimbra", Dr. Ayres de Sousa; "O valor do radiodiagnóstico na encefalopatia traumática", Prof. Dr. Correia de Oliveira; "Introdução ao diagnóstico diferencial em Radiologia", Dr. Moura Relvas; "Os Raios Röntgen na traumatologia óssea", Dr. J. de Espregueira Mendes; "A Radiologia em Ginecologia", Dr. Oscar Ribeiro; "Importância da Radiologia nalguns problemas da tuberculose pulmonar", Prof. Dr. Vaz Serra; "História do laboratório de Radiologia da Faculdade de Medicina de Coimbra", Dr. Fernando Ramalho; "Alguns resultados da aplicação dos Raios X à determinação de estruturas", Prof. Dr. João R. de Almeida Santos; "A descoberta de Röntgen e a sua projecção em patologia cárdio-arterial", Prof. Dr. João Porto; "Valor dos Raios X nas doenças dos ouvidos, nariz e garganta", Dr. Manuel Pinto; "A Descoberta de Röntgen e a Medicina Militar", Dr. José Maria Fernandes Lopes; "Algumas modificações do tecido ósseo sob influências extrínsecas, em Radiologia", Prof. Dr. Aleu Saldanha; "Evolução da semiótica em Radiologia", Dr. Ayres de Sousa.
Em 1949, aprovou-se em Assembleia Geral uma proposta a dirigir ao Ministério da Educação, pedindo a criação da cadeira de Radiologia nas Faculdades de Medicina.

Nesse mesmo ano, é atribuído à SPRM a responsabilidade da organização do 1º Congresso Luso-Espanhol de Radiologia, que se realizou de 7 a 12 de Novembro de 1950, em Lisboa, na sequência do qual se passa a colaborar com a Sociedade Espanhola de Radiologia na publicação da Acta Ibérica Radiológica e Cancerológica.

Entre outras iniciativas citamos a realização em 1953, em Lisboa, de um Curso de Aperfeiçoamento em Radiologia, com lições proferidas por colegas estrangeiros convidados. Em 1957 comemora a SPRM as Bodas de Prata com a promoção de reuniões científicas, destacando-se o IV Congresso Médico de Radiologistas e Electrologistas de Cultura latina, que decorreu em Lisboa, de 8 a 13 de Abril de 1957, no Instituto Superior Técnico. Em Pavilhão construído para esse efeito, teve lugar também uma Exposição Técnica de material e outra Exposição dedicada aos Pioneiros da Angiografia. Participaram cerca de 3 000 congressistas portugueses e estrangeiros. Ainda nesse ano procede-se, de acordo com recomendação do Congresso anteriormente referido, à segunda alteração dos Estatutos da SPRM, com integração da Medicina Nuclear na sua designação. Nos seus objectivos, a agora denominada, Sociedade Portuguesa de Radiologia e Medicina Nuclear (SPRMN), propõe-se "fomentar o estudo da Radiologia, considerando não só as origens convencionais (Raios X e rádio), como também as origens mais modernas de radiação (isotopos radioactivos, fontes de neutrões, etc), incluídos na chamada Medicina Nuclear". Fixa-se igualmente nos Estatutos, a pretensão da SPMN de se fazer representar na Comissão Internacional de Protecção contra as Radiações Ionizantes. É estabelecido também nessa alteração estatutária, que o cargo de Secretário Geral tenha a duração de seis anos a fim de garantir espírito de continuidade entre Direcções.

Dadas as exigências financeiras sugeridas pela Sociedade Espanhola de Radiologia, inerentes à publicação da Acta Ibérica Radiológica e Cancerológica, a SPRMN vê-se forçada a interromper em 1961 a sua participação.

Por iniciativa e insistência do representante da SPRMN na Comissão de Protecção Contra as Radiações Ionizantes, apoiado pelo representante da Ordem dos Médicos, também nosso sócio, foi incluído no Decreto-Lei nº 44.060 de 25 de Novembro de 1961, o seu artigo 13º. Graças a ele, passou a ser permitido aos Servidores de Estado, subscritores da Caixa Geral de Aposentações, vitimas de acidentes de Trabalho ou doença profissional resultante de exposição às radiações ionizantes, a aplicação das disposições do Decreto-Lei no 38.523 de 23 de Novembro de 1951. Antes tais funcionários não tinham direito legal a qualquer indemnização.

Em 1964 é realizado um importante Ciclo de Conferências sobre Esplenoportografia, em colaboração com a Sociedade Médica dos Hospitais Civis de Lisboa, e, em 1965 no Porto, um Simpósio sobre "Cancro da Laringe" em colaboração com a Sociedade de Otorrinolaringologia e Broncoesofagoscopia.

Depois do I Congresso Luso Brasileiro de Radiologia, realizado no Brasil em 1965, em cuja organização a SPRMN teve uma intervenção activa, continuam a estreitar-se os elos com o Colégio Brasileiro de Radiologia, e efectua-se de 1 a 9 de Julho de 1968, em Lisboa, Porto e Coimbra, o II Congresso Luso-Brasileiro de Radiologia. Em 1970, a SPRMN intervém, também no III Congresso Luso-Brasileiro, realizado em simultâneo com o VIII Congresso dos Radiologistas e Electrologistas de Cultura Latina, no Rio de Janeiro, de 16 a 22 de Agosto.

Na segunda metade dos anos 70, a SPRMN reforça o relacionamento com a Associação Europeia de Radiologia, e organiza uma série de cinco Simpósios Internacionais, que viriam a culminar no I Simpósio sobre Radiologia de Intervenção, realizado em Alvor, em Maio de 1979. É a Direcção de então, que desenvolve esforços no sentido da atribuição à SPRMN do Estatuto de Instituição de Utilidade Pública, conferido por despacho de 14 de Abril de 1980, assinado pelo Primeiro Ministro, Dr. Francisco Sá Carneiro.

A SPRMN tinha utilizado até então, graciosamente, outras Instituições, para sua sede social, as quais foram: a Secção Regional do Sul da Ordem dos Médicos (até 1958); o Serviço de Radiologia do Hospital de S. José (até 1964); e o Auto Clube Médico Português (até 1980), com desvantagens obvias. Foi, pois, de reconhecido alcance a decisão de Direcção de propor em Assembleia Geral a aquisição de um andar para sede própria. Após aprovação em Assembleia Geral de 20 de Julho de 1979, procedeu-se a esta compra, tornada possível pelos proveitos financeiros obtidos no Simpósio do Alvor. Sob a égide da Associação Europeia de Radiologia, e, organizadas pelo Prof. Howard Midlemiss, Reitor da Universidade de Bristol, a SPRMN efectua em Lisboa, em 1980, as provas de acesso ao Diploma Europeu em Radiologia e Radioterapia. Concorrem dois colegas portugueses, que foram aprovados, um em cada uma daquelas especialidades.

Uma Comissão designada pela Direcção para revisão dos Estatutos, apresentou uma proposta de alteração, aprovada em Assembleia Geral de 19 de Maio de 1978. Criam-se novos órgãos sociais: a Mesa da Assembleia Geral (até aquela data função exercida pela Direcção) e o Conselho Fiscal. O cargo de Secretário Geral voltou a ter a duração de 2 anos. São ainda criadas Secções, com o objectivo de um desenvolvimento mais eficaz de áreas especificas de diagnóstico pela Imagem, e de outras Ciências afins: Radioterapia e Física Médica, Radiobiologia, Radioprotecção e Informática Médico-Radiológica.

Em 1981, comemora a Sociedade o seu Cinquentenário e promove reuniões cientificas sobre novos métodos de imagem e sobre Neurorradiologia em Lisboa, Porto e Coimbra. é também em 1981, que é criada pela Direcção uma Comissão para organizar a Exposição Itinerante de Egas Moniz e Reynaldo dos Santos. A Exposição, é apresentada em Londres, Berlim, São Paulo, Rio de Janeiro, Bordéus e Lisboa, durante os anos de 1982 e 1983, com grande sucesso. Procede-se no mesmo ano, e pela quarta vez, a alterações estatutárias criando-se a Secção de Neurorradiologia e alterando-se a designação de Secção de Radioterapia, que passa a intitular-se Radioterapia-Oncologia.

Em Assembleia Geral de Junho de 1983, a Direcção vê aprovada a sua proposta para apresentação da candidatura da SPRMN, para realizar em Lisboa, em 1987, o VI Congresso Europeu de Radiologia (ECR 87). Esta candidatura foi formalizada em Setembro de 1983, em Bordéus, na Assembleia Geral da Associação Europeia de Radiologia, que ocorreu durante o V Congresso Europeu. A candidatura portuguesa ultrapassa na votação a proposta Jugoslávia por larga maioria de votos. A responsabilidade das tarefas inerentes à organização do ECR'87, justificam que a Direcção eleita para o biénio 83/84, tenha tido o seu mandato prorrogado até 1987, por decisão da Assembleia Geral realizada em 1985.

Um conjunto de boas vontades de muitos sócios, mesmo de alguns inicialmente cépticos, junta-se à Direcção numa mobilização de esforços, e o ECR'87 - VI Congresso Europeu de Radiologia tem lugar em Lisboa, de 31 de Maio a 6 de Junho. O indiscutível êxito do ECR'87 ‚ reconhecido nacional e internacionalmente. Nele participaram mais de 5300 Congressistas, distribuindo-se as actividades Cientificas pela Feira Internacional de Lisboa (F.I.L ), Fundação Calouste Gulbenkian, Fórum Picoas, Instituto de Higiene e Medicina Tropical e Instituto Superior Naval de Guerra. A Exposição Técnica, com participação de 112 firmas de material de radiologia e de radioterapia, foi implantada na FIL, num espaço superior a 10.000 m2.

O Programa Cientifico, estruturado em moldes inovadores, deu ênfase à Educação Contínua, traduzida nos 2 Cursos Categóricos sobre Ultrassonografia e Ressonância Magnética Nuclear e nos 42 Cursos de Reciclagem. A Comissão Científica Internacional fez a selecção de 1238 comunicações livres apresentadas em 101 Sessões Plenárias, 53 das quais com Conferências introdutórias. A Exposição Científica para apresentação de mais de 300 trabalhos em "poster" ocupava uma área de 1100 m2.

Tendo em atenção o Programa Cientifico do ECR'87, e o prestigiado grupo de preletores que nele se integraram, a Sociedade Norte Americana de Radiologia (RSNA) creditou-o na Categoria I.

A realização do ECR'87 permitiu à Direcção, lançar uma série de iniciativas de caracter formativo, a maior parte das quais destinadas aos associados mais jovens. Assim, desenvolvem-se na Sociedade os serviços de Biblioteca, Diapositivos e Videoteca, para visionamento na sede ou no domicilio. A sede ‚ apetrechada com equipamento de informática e de audiovisuais. O primeiro permite nova forma de gestão do movimento administrativo e, numa fase posterior, "formatai o" da revista, bem como de trabalhos e currículos a solicitação de sócios. Em 1989, inicia-se a publicação da revista Acta Radiologia Portuguesa, com periodicidade trimestral, bilingue Português/Inglês, e destinada à difusão de artigos científicos de autores portugueses e estrangeiros.

No ano de 1990, efectua-se a Conferência Norte Americana sobre Oncologia no Estoril, em colaborai o com o "New York University Medical Center" e decorre em simultâneo o Congresso da Sociedade Ibero Latino Americana de Neurorradiologia. Estabelece-se um protocolo com a Comissão de Educação da Associação Europeia de Radiologia, e promovem-se em Lisboa entre 1989 e 1992, as provas de acesso ao Diploma Europeu de Ecografia Clínica, inicialmente com Júri Internacional, nas quais s o naqueles anos aprovados 29, 12, 11 e 3 candidatos portugueses.
Em 1992, a SPRMN concretiza uma antiga e necessária aspirai o associativa e promove o 1º. Congresso Nacional de Radiologia (CNR'92) realizado em Lisboa, no Fórum Picoas, com mais de 500 participantes e 334 trabalhos apresentados.

A anteceder o Congresso, realizou-se um Curso Teórico-Prático sobre Ecografia Endocavitária. No Programa de Educação Contínua do CNR'92, integraram-se 26 Cursos de Aperfeiçoamento, 11 Conferências e 6 Mesas Redondas.

Visando incentivar a realização de trabalhos de investiga¡ o no campo das Ciências integradas no âmbito da SPRMN, são em 1993 publicadas as normas para atribuição anual do Prémio "Dr. Carlos Santos - Schering Lusitana", o qual ‚ entregue pela 1ª. vez em 1994. Ainda em 1994, e de acordo com o programa previamente estabelecido, efectuou-se no Porto, na Casa de Vilar, o 20 Congresso Nacional de Radiologia (CNR'94), com crescente número de participantes e de comunicações, tendo sido submetidos para apreciação 530 trabalhos. Realiza-se um Curso Pré-Congresso de Imagiologia Mamária e no Programa de Educação Contínua do CNR'94 integram-se 10 Cursos de Aperfeiçoamento, 5 Conferências e 8 Mesas Redondas.

Em Março de 1995, procede-se pela quinta vez a alterações dos Estatutos, criando-se as Secções de Radiopediatria, de Ressonância Magnética e de Radiologia cardiovascular e de Intervenção. O ano de 1995‚ principalmente marcado pelas Comemorações do Centenário da Descoberta dos Raios X, para as quais a Direcção criou uma Comissão, que promove reuniões de carácter científico e cultural em Lisboa, Porto, Coimbra e Matosinhos. As Comemorações iniciam-se com Sessões Solene, presidida pelo Ministro da Saúde efectuada na Fundação Calouste Gulbenkian em 26 de Abril, seguida de inauguração da Exposição do "Deutsches Roentgen Museum" convidada pela SPRMN a estar patente nos espaços da Fundação até‚ 6 de Maio.

Para sublinhar este Ano do Centenário, e tendo em vista fomentar a Educação Continua nas áreas científicas integradas no âmbito da SPRMN, a Direcção cria Bolsas de Estudo para jovens especialistas, a serem atribuídas anualmente a partir de 1996. A SPRMN associa-se e patrocina também manifestações promovidas por outras Instituições, em Comemorações do Centenário.

Acima ficaram, em rápido escorço, os traços fundamentais da vida e dos trabalhos da SPRMN, nos seus 54 anos de existência. Foi uma longa e árdua caminhada. Pode parecer-nos hoje impossível que, quase sem meios e com poucos apoios, tanto se tenha realizado. É a prova de que quando se luta, em perfeita união por um ideal, a obra se realiza e perdura. Na verdade quando Roentgen - homem bom, modesto e desapegado do dinheiro - há um século fez a sua maravilhosa descoberta, transformou completamente a Medicina. Mas não mudou em nada o pendor espiritual altruísta que, desde tempos imemoráveis, sempre levou alguns seres humanos a entregarem-se, com dedicação acolhedora e fraterna, ao diagnóstico e tratamento de doentes. O que Roentgen proporcionou, foi um novo e poderoso meio de acção àqueles que chegaram à prática da Medicina, depois da descoberta dos raios X. Cedo se verificou que estes podiam ser nocivos, particularmente para os seus utilizadores. Por isso, como em todo o Mundo, a Radiologia portuguesa muito cedo teve, como vimos, os seus mártires, vitimas do espírito de dádiva de si próprios, sem o qual não há Medicina. Todos foram, com outros companheiros de ideal, fundadores da Sociedade Portuguesa de Radiologia Médica. Inclinamo-nos perante a memória dos que a morte já levou e recordamos comovidamente - nós que viemos depois - aqueles, estuantes de energia e de capacidade organizadora, com quem trabalhámos na Sociedade, alguns felizmente ainda vivos. Todos eles fizeram da Sociedade uma escola de civismo, de respeito mútuo, de salutar uni o, de apego ao trabalho não remunerado, de sacrifício dos interesses pessoais e de total dedicação à Radiologia e ao seu Ensino. Era este, diziam-nos, o espirito dos fundadores. Assim deve ser para sempre!

 

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